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20 de Maio de 2024

Consciência Política de “Primeiro Mundo”?

Publicado por Raquel Firmino
há 11 anos

No início do mês de junho de 2013 o Brasil mostrou ao mundo que "está na hora do próximo passo". Tudo isso emergiu timidamente, como todos os anos ocorre em algumas capitais frente ao anúncio do aumento das passagens, mas foi gradativamente evidenciando que os brasileiros não podem mais tolerar tamanha discrepância entre preços e serviços. Despertou a raiva encrustada na polícia. Essa raiva decenal que se prolifera nos genes da instituição militar brasileira. Talvez seja um reflexo da própria cultura brasileira. Essa que faz apologia à violência todos os dias ao meio dia e ao entardecer nos televisores das casas dos brasileiros.

Ocorre que, havia muita insatisfação borbulhando no coração dos brasileiros. Desses que tiveram acesso recentemente ao meio intelectual e aos bens de consumo. O “El País” indagou sobre os porquês do Brasil somente se manifestar neste momento, uma vez que os seus problemas estruturais não são novidades. No próprio artigo, o jornal espanhol tenta responder à pergunta afirmando que os brasileiros despertaram de um longo sono, para então cobrar das autoridades condições semelhantes ao que estas vêm se beneficiando nas suas propagandas políticas (PIB de "primeiro mundo", aumento da renda, economia forte, etc).

Não, os brasileiros não aceitam mais discursos vazios desprovidos de facticidade. Por isso, no mês de junho de 2013 o mundo descobriu que o Brasil deu o primeiro passo mostrando um germe de uma consciência política, dessas vistas apenas no "primeiro mundo", tal qual na França, Inglaterra, Alemanha, etc. Não, não, não seremos mais conhecidos apenas como o país do futebol. Por ironia, as autoridades eclodiram as manifestações ao aumentarem as passagens dos transportes públicos contemporaneamente ao início da Copa das Confederações.

As proporções das manifestações até o momento é uma incógnita. O importante é saber que o mundo acorda com o Brasil na primeira página do NYT. E não é corrupção, nem futebol, nem bundas, nem carnaval que estampam as matérias jornalísticas. É o povo reunido, clamando por melhores condições de vida, inclusive melhor qualidade no transporte público, o qual serviu apenas de estopim para uma onda de insatisfações que os detentores do poder no país têm causado aos seus representados.

Até o momento, os governantes retrocederam sobre o aumento dos preços públicos do transporte. As manifestações continuam e indicam que essa será práxis para cobrar dos representantes probidade e medidas concretas nos diversos setores capengas da sociedade - saúde, educação, transporte, infraestrutura urbana, etc.

É bonito de ver, o Brasil se destacando pela sua consciência política, através de movimentos dessa magnitude.

Não obstante a mídia brasileira dizer o contrário, os movimentos são pacíficos sim, mas as repercussões são violentas, inclusive produzindo efeitos na mídia dominada pelos setores mais abastados que torce pela alienação ad eternum do povo. E são violentas no sentido do poder da transposição de territórios e de ideologias, causando movimentos de apoio em várias cidades do mundo.

O Brasil, então, acorda de um longo sono, desde as "Diretas já", incrivelmente coincide com o ano de comemoração dos 25 anos da Constituição Federal vigente, ano em que as universidades do país farão congressos discutindo as conquistas e desafios da Carta Magna nesse um quarto de século. É a democracia saindo da menoridade tal qual Kant diria sobre o homem quando do surgimento da Ilustração.

A coincidência também abarca a propaganda do Johnnie Walker, com o seu "Keep Walking Brazil", "está na hora do próximo passo" e o "gigante não está mais adormecido". Realmente tão fantástico quanto ver o Pão de Açúcar se transformando em um gigante, é ver milhares de brasileiros nas ruas das principais cidades do país exigindo o cumprimento dos seus direitos. Isso é gigantesco! Isso é mudança de paradigma, porquanto a luta não visa à mudança do poder, mas a mudança no poder. Dá uma mensagem aos representantes: - queremos que vocês façam bem os seus trabalhos, pois não estamos satisfeitos com as suas atuações. Essa pressão é mais do que legítima, afinal, outorgamos ao Estado o poder e por isso temos o direito de exigir a accountability.

Conforme o "El País", os jovens brasileiros não estão apenas querendo que o nosso país seja reconhecido como de "primeiro mundo", mas ofereça à sua população os serviços de qualidade típicos desses países. Para isso ocorrer serão preciso muitas manifestações e como resposta, boa governança. No entanto, depois dessa demonstração de comoção popular, podemos dizer que os brasileiros têm consciência política de "primeiro mundo"? Como sempre, o tempo responderá!

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11 Comentários

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Gostaria de acreditar que o gigante realmente acordou, mas acredito que esteja apenas sonâmbulo, logo voltará a deitar em seu "berço esplêndido". 25 anos da Contituição Federal, quem foi o convidado da OAB? Lula, que não perdeu a oportunidade para defender seu partido, mudanças no STF, claro insatisfeito com a condenação de seus comparsas, sem falar no senhor presidente do senado basileiro que pretendia gastar R$ 98.000,00 em seis meses de "alimentação básica" para sua residência oficial. Iluda-se quem quiser, não acredito que as coisas mudarão, afinal de contas a população vende seu voto por um bolsa qualquer coisa.
Devemos votar melhor, então me apresentem candidatos melhores... continuar lendo

Seria bom se toda esta reflexão representasse um pouco da verdade. Não acredito que uma nação mude por tão pouco. A sociedade brasileira vem sendo destruída em sua educação, cultura e valores familiares. Todo este movimento social não é fruto de democracia. Mesmo que tenhamos eleições diretas, o que se vê é uma sociedade manipulada, e as manifestações por descontentamento ajudarão a levantar cada vez mais a bandeira de um grupo político articulado, consciente de se manter no poder, insistente, e o pior, em vias de implantar o socialismo e a ditadura por meios de uma revolução cultural. Infelizmente, há pessoas ainda iludidas, mas acreditarão o dia em que levarem um "pé na bunda", e será tarde demais. continuar lendo

Infelizmente esse texto "is so last year" :(parece até que estamos falando de outro país continuar lendo

Esse texto foi um desabafo meu mediante o calor do momento de ver o Brasil se movimentando. Apesar de não ser tão otimista como pareci no texto, fiquei deslumbrada com a primeira grande manifestação que presenciei no nosso país, que tanto amo. Só resolveremos os problemas no Brasil quando acabarmos com a grotesca desigualdade entre ricos e pobres, quando singularizarmos os Brasis existente no Brasil. continuar lendo